felizmente, é quase senso comum a consideração da saúde dos nossos intestinos como um ponto fundamental para a saúde de todo o nosso organismo.
cresci com a obrigação de que as minhas fezes fossem vistas diariamente, não só para garantir que elas existiam com essa regularidade, mas também para averiguar e diagnosticar a minha condição de saúde. sabedoria de mamãe. a minha saúde não era de facto grande coisa, e não tardou a que passasse a ser mais uma consumidora de laxantes – mais ou menos farmacológicos. o agiolax era companheiro de acampamentos, a célebre latinha serviu de instrumento musical em várias animadas fogueira.
agora, e sem qualquer dúvida graças às mudanças e escolhas alimentares que fui fazendo, tenho um relógio suíço interno – que me desperta diariamente para cumprir as suas matinais funções. quando não funciona, sei claramente que ando a desafiar o meu corpo a provações demasiado fortes para um equilíbrio da minha estrutura – seja por excesso de movimento (leia-se como falta de estabilidade) seja pela qualidade da alimentação in momentum.
cada um de nós, cada corpo, tem o seu limite, e a atenção ao sinais que o corpo emite permite-nos reconhecer até onde é ok desafiarmos o nosso corpo.
cultivar sensibilidade permite aumentarmos a capacidade de reconhecer sinais e, assim, agir em concordância. perdemos sensibilidade ao abusarmos do corpo passando por cima dos seus sinais de alerta. tão claro como o exemplo de, quando toca uma sirene como sinal de fogo, removermos a sirene em vez de atentarmos à razão pela qual ela está a soar.
permite-nos também estar despertos para a diferença entre experienciar desafios e viver em desafio. Não existem duas estruturas com uma mesma capacidade de enfrentar desafios – em tempo ou intensidade – bem como para cada estrutura um chamado ‘desafio’ é de natureza diferente. Uma experiência traumática para mim pode ser um passeio no parque para um power ranger. e vice-versa.
quando o meu alarme toca, quando os meus intestinos passam de suíços a alentejanos, se não posso mudar as condições que despoletam esta alteração, preciso claramente ajudar a minha estrutura a aproximar-se do equilíbrio.
para além das mezinhas que me ajudam a um equilíbrio orgânico (vede abaixo se já estais farto de ler ), tento dar-me tempo para aumentar uma relação consciente com o meu corpo: nem que seja por apenas mais 5 minutos, dar-me mais tempo para sentir o corpo intencionalmente. como uma meditação: parada ou em movimento. às vezes a estagnação intestinal (ou qualquer desarranjo fisico) esconde outras razões, outros níveis de desequilíbrio, e o desbloqueio pode vir do– ou ser acelerado pelo – carinho e cuidado que devotamos aos vários níveis de sabedoria que o corpo transporta. para mim é certo que emoções se gravam nas minhas células, com um sistema digestivo tão importante como o físico.
um dia um professor dizia-me: “não és aquilo que comes, és aquilo que não eliminas.“ convida os néctares com que te alimentas a fluírem pelo teu corpo, não permitas que estagnem. a água mais pura, estagnada, cria podridão.
come bem, gera movimento, respira prolongadamente. adiciona consciência a cada um destes pilares e a tua flexibilidade (aka saúde) será largamente ampliada.
mezinhas favoritas para voltar à regulação intestinal, sem ordem de preferência ou eficácia.
SOPA DE MISO
FEIJÃO AZUKI
AMEIXAS/FIGOS
ALGA AGAR-AGAR
NIGARI (CLORETO DE MAGNÉSIO)
ALGA KOMBU
SEMENTES DE LINHAÇA
PICKLES / CHUCRUTE
KUZU
SOPA DE MISO
[ ingredientes coordenados para reforçar o sistema imunitário ao mesmo tempo que promovem desintoxicação ]
4 cenouras
1 cabeça de alho
2 nabos
5 cogumelos shitake
1 c. sopa de alga hijiki
1 c. sopa de miso
coentros e gengibre a gosto
demolhar os cogumelos e a alga hijiki por 30 minutos.
lavar e descascar as cenouras e os nabos (se os conseguir de origem biológica, em vez de os descascar lave com uma escova de vegetais). cortar em pedaços de aproximadamente 5 cm.
limpar e cortar os cogumelos em lâminas.
descascar os alhos e remover o espigão interior.
numa panela mais alta que larga, colocar os vegetais, os cogumelos e a alga, cobrir com água (aproximadamente 3 dedos de altura sobre o nível dos vegetais) e deixar levantar fervura.
tapar a panela e deixar em lume mínimo por 20 minutos, ou até confirmar que os vegetais já estão cozinhados.
numa taça desfazer o miso numa pequena porção de água, de forma a que a pasta fique o mais uniforme possível. lembrar que o miso necessita de ir ao calor para acordar mas não pode ferver!
acrescentar a pasta de miso já desfeita à sopa, ainda em lume mínimo, e atentamente aguardar ver umas pequenas bolinhas surgirem como se quisessem começar a ferver (se necessário subir um pouco a chama).
desligar e está pronta a servir!
junte coentros picados e sumo de gengibre fresco ralado, a gosto, sobre cada taça de sopa.
ARROZ INTEGRAL COM FEIJÃO AZUKI
[ feijão azuki é especialmente indicado para os rins e intestino delgado, produzindo também um bom efeito de activação de líquidos estagnados. ]
3 chávenas de arroz integral, demolhado por aproximadamente 8h
1 chávena de feijão azuki, demolhado por aproximadamente 8h
1 tira de alga kombu (~6 cm), demolhada por aproximadamente 20/30 minutos
8 chávenas de água
escorrer e tostar o arroz, em fogo médio e numa panela mais larga que alta, até sentir o aroma a cereal tostado. (no inverno, se possível, cozinhe-os numa panela de pressão)
escorrer o feijão e juntar ao arroz. juntar a alga, juntamente com a respectiva água da demolha.
ferver as 8 chávenas de água e juntar assim quente sobre o arroz.
deixar levantar fervura. reduzir o lume para o mínimo e deixar cozer durante aproximadamente 40 minutos.
servir com um pouco de picante, seja sumo de gengibre ou uma pitada de pimenta cayene. o sabor picante favorece a digestão das proteínas complexas, como é o caso das leguminosas.
AGAR-AGAR em mousse de pêra, ameixa e figos
[ agar-agar reduz estados de inflamação, esfria e relaxa, não tem calorias, facilita o transito intestinal, promove digestão. ]
10 pêras
1,5 c.sopa de alga agar-agar em flocos
sumo de 1 limão
8 ameixas secas
8 figos pretos secos
2 gotas de essência de baunilha
2 colheres de sopa de geleia de arroz
1 pitada de vinagre de ameixa umeboshi
colocar de molho a agar-agar, coberta com água por 10 minutos.
caso as ameixas e figos estejam/sejam de qualidade mais ressequida, demolhar por 10 minutos em água morna.
descascar, cortar e triturar 9 pêras numa liquidificadora – se necessário juntar meia chávena de água. aquecer em lume baixo o creme de pêras, adicionar a alga, e deixar em lume mínimo, mexendo com frequência, durante 5 minutos.
escorrer as ameixas e figos, e cortar em pedaços.
juntar as ameixas, os figos, a geleia de arroz e a essência à panela, mexendo para que se incorporem bem. adicionar o vinagre de ameixa umeboshi, mexer e confirmar se necessita de acrescentar mais geleia para que o doce esteja a seu gosto. verter sobre um tabuleiro baixo. juntar uma pêra descascada e cortada em meias luas. levar ao frigorifico por 8h ou ao congelador por 3h.
NIGARI
[ para além do efeito laxativo, tem o benefício extra de ser uma das formas de suplementar magnésio que o é mais facilmente absorvida pelo nosso organismo. ]
juntar 100 gr de sais de cloreto de magnésio em 5 litros de água para a proporção de líquido ideal para ingestão diária de 1 a 2 copos.
uma vez que a quantidade de magnésio presente e necessária em cada corpo é variável (não só de corpo para corpo como também em momentos diferentes), em casos de obstipação teste a proporção de uma colher de chá numa chávena de água, antes de ir dormir. dependendo da sua condição e sensibilidade, poderá acordar já com o intestino pronto para uma limpeza. aumente a quantidade caso não seja suficiente, e descubra a proporção ideal para a sua condição/intenção.
CHÁ DE KOMBU
[ elimina gordura e proteína animal, efeito anti-coagulante, fungicida natural, calmante, mineralizante, amolece fibras, fortalece intestinos, alivia desequilíbrios hormonais com especial impacto a nível da tiróide. ]
1 tira de alga kombu de 5 a 7cm
1 litro de água
tamari (molho de soja)
colocar a alga e a água ao lume, em chama alta, até levantar fervura.
deixar em lume mínimo por 15 minutos.
numa caneca ou copo de vidro grosso, colocar umas gotas de tamari (ou uma pitada de sal) e verter o chá sobre.
LINHAÇA, papa de linhaça com alfarroba e bagas de goji
[ linhaça é uma óptima fonte de ómega 3, commumente usada para aliviar problemas digestivos e tratar obstipação, ajuda a baixar os níveis do chamado ‘mau colesterol’ ajudando assim a reduzir o risco de doenças do coração, contribui para regular os níveis de estrogênio, magia para remover velhos mucos depositados promovendo a sua substituição por fluidos limpos – renovados ]
1 chávena de sementes de linhaça
3 chávena de água
2 c.sopa de farinha de alfarroba
1 c.sopa de geleia de trigo
1 c.chá de canela
deixar a linhaça de molho durante a noite, triturar pela manhã numa liquidificadora, juntando os restantes ingredientes – ajustando quantidades a gosto. servir morno em dias frios, juntando umas bagas de goji sobre a taça.
PICKLES DE COUVE LOMBARDA
[ alimentos fermentados oferecem-nos enzimas vitais para a saúde e optimização dos intestinos, bem como vitamina B12 ]
½ couve lombarda
1 c.chá de sal marinho não refinado
cortar a couve em tiras muito finas e compridas.
lavar e escorrer muito bem.
colocar numa taça larga, juntar o sal e apertar com as mãos, misturando e quebrando as tiras de couve que começarão a soltar líquido (quanto mais sal, mais liquido vão soltar). é neste líquido que ocorre a fermentação.
colocar numa prensa de vegetais e fecha-la bem.
caso não tenha a prensa, tapar com um prato raso e colocar um peso sobre o prato – de forma a que os vegetais fiquem a receber pressão constante.
reservar durante no mínimo 2h antes de servir.
em tempo quente conservar fora do frigorifico, à temperatura ambiente, por 24h.
em tempo frio pode conservar fora do frigorifico, à temperatura ambiente, por 48h.
passado esse período poderá guardar no frigorífico pelo tempo que quiser. no frigorifico abrandará consideravelmente o processo de fermentação. quanto mais tempo estiver à temperatura ambiente, mais fermentação ocorrerá. importante atentar ao aparecimento de bolor.
KUZU
[ ajuda a equilibrar a flora intestinal, em qualquer que seja o cenário de desajuste. em combinação com a ameixa umeboshi, fornece também sais minerais ]
1 c.sobremesa de kuzu
1 chávena de água
1/2 c. chá de ameixa umeboshi
1 c. chá de tamari (molho de soja)
dissolver uma colher de sopa de kuzu numa pequena quantidade de água, preferencialmente usando os dedos para garantir a melhor dissolução possível.
colocar num tacho pequeno. adicionar uma chávena de água, adicionar a pasta de umeboshi e cozinhar em lume médio, mexendo sempre por aproximadamente 4 a 5 minutos. quando estiver translúcido e homogéneo juntar o tamari e deixar cozinhar por mais um minuto. tomar quente.
PS – mais uma mágica palavra: enema.
em caso de ajuda, uma referência preciosa: Laurent Bordas.